A MINHA PÁTRIA É A MINHA LÍNGUA

Estamos no segundo ano da vigência do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Ao observar um pouco a sociedade, podemos ter a certeza de que a grande massa não se interessa por questões dessa ordem. Embora o povo receba constantemente a culpa por tudo quanto de ruim que lhe aconteça – o povo é isso, o povo é aquilo... blá, blá, blá – desta vez, talvez o povo tenha razão.  Talvez não seja pertinente perdermos horas em debates impetuosos, tentando chegar à conclusão de que a reforma traz ou não prejuízos para cultura deste ou daquele país.
Certo é que a língua é dinâmica, mutável no tempo e no espaço; e não precisamos ir longe para comprovar tal afirmação, basta atentarmos a algumas particularidades da língua no Brasil e em Portugal, por exemplo. Aqui dizemos “Pois não!” para dizermos sim, lá “Pois não!” significa não; “bicha” no Brasil é homossexual, em Portugal é fila; “digital” em Portugal é “dedada”; “salva-vidas” (homem), além mar é “banheiro”; “banheiro” (casa), na pátria de Camões é “casa de banho” e “taxa de matrícula” é “propina”. Como se ver, mesmo que falemos a mesma língua, sempre haverá minudências, uma vez que são próprias de uma língua suas variações culturais de acordo com cada região na qual ela se desenvolve.
Diz que portugueses e brasileiros são contra a reforma. Estes, talvez, por sua pouca intimidade com a língua escrita, aqueles por serem “defensores” de sua cultura. Caros colegas de língua, não sejamos reacionários nem muitos menos analfabetos. A língua não é mais portuguesa nem de ninguém, nós que a usamos (devida ou indevidamente) é que pertencemos a ela. Portugal, em séculos passados, quando plantou em cada continente a semente desse belo idioma, ao mesmo tempo em que expandiu seus domínios impondo sua cultura, lançou mão da mesma. A língua fez seu decurso natural; não será normas de escrita (é bom que se frise, só começaram a ser pensadas há um século) que usurparão do povo português sua cultura, visto que esta não se encontra no corpo (grafema) da palavra, mas na sua alma patente; não serão normas de escrita que deixarão o brasileiro sem norte, à deriva no mar da palavra.  Em 1971, quando o decreto do governo altera algumas regras da ortografia de 1943: abolição do trema nos hiatos átonos: saüdade (=saudade), vaïdade (= vaidade); ambas as palavras continuaram as mesmas; continuamos saudosistas, sentimos a mesma saudade e, pelo visto, a mesma vaidade.
Sem uma união, a língua portuguesa tornar-se-á fragilizada no mundo contemporâneo. Precisamos fortalecê-la e um acordo único parece ser a iniciativa correta. Muitos são os países que finalizaram sua unificação ortográfica. Na língua francesa, o acordo concluiu-se em 1986; Em 1995 foi aprovada a última reforma neerlandesa, que abrange a língua falada da Holanda e de Flandres; A reforma ortográfica do espanhol concluiu-se em 1999 e abrange a Espanha e os países da América Latina; Em 2005 foi aprovada a reforma da ortografia da língua alemã. Assim como o português, são idiomas falados em várias nações além de sua pátria-mãe. Devemos, pois, procurar conhecer melhor o novo acordo para tirarmos nossas próprias conclusões.

Palavras... palavras...

Se... se... se...
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Mas... é... ou...
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Talvez... é... talvez...