SONETO DE LUZ E ESCURIDÃO

Quando, menina, a luz do sol te assiste
E teu belo olhar límpido e discreto
Volta-se para mim tão cheio de afeto
Vejo o quanto meu ser ainda é triste.

Epicuro disse algo muito certo
Quando em um desejo se insiste
A amargura no peito assim persiste
É estar perdido meio a um deserto.

Inda que de teus olhos eu tivesse
Pelo menos, menina, a intensa luz
Ou a lira que teu riso me traduz

Seria como se eu jamais pudesse
Viver e despertar dessa saudade
Dos bons tempos de minha mocidade.


SONETO DO AMOR À LUZ DO TEMPO

Quando do amor, querida, sai poesia
Mesmo do mais singelo movimento
De cuja luz transborda um sentimento
Para tornar-lhe quente a cama fria

É que se ver na espuma o nascimento
De Vênus e o vislumbre da alegria
Vista no olhar infante que faria
Fugir qualquer que seja o sofrimento.

Mas se do amor surge uma canção
Transcendendo da vida em harmonia
Que os acordes palpitam nostalgia

Para um descompasso de emoção
Tem-se escrito o óbito que se leu
Daquele amor puro que morreu.


TEU SORRISO

Na vida
Pode faltar-me tudo
Falte-me a luz
A esperança
A alegria
A vontade
Falte-me até mesmo a vida
Falte-me o amanhecer
A tarde voe
O crepúsculo
A noite
Acabe o sonho
O sono
Só não me pode faltar o teu sorriso
Essa flor que me desabrocha em cores cuja essência inaugura uma réstia de luz que caminha na casa onde compartilhamos o gozo da vida
Esse fruto saboroso que me sacia
Essa dádiva
E loucura

PÁLIDO OLHAR ESTÚPIDO

Às vezes, você me deixava alegre
Às vezes, garota, achava que conseguiria tudo que eu quisesse
Se o tivesse
Teu pálido olhar triste
À procura do distante
Esse olhar de natureza morta

Quando mirava teu olhar
E o sentia no meu, ainda que despedaçado,
Teu pálido olhar triste
Nada desejava
Além de teu pálido olhar
Que se perdia numa nuvem qualquer que passava perdida no céu azul
Às vezes, garota, eu me via a sorrir
E estava certo de que era teu pálido olhar estúpido

Porquanto, garota, diga algo
Grite palavras de ira e desafeto
Que não tenho nada
Que nada tateio
Além da lembrança do teu pálido olhar
Além das andanças sempre cabisbaixo
Em que perdia a direção do céu
Para vê-lo apenas no reflexo de poças d’água com os sapatos molhados e o pensamento cheio de teu pálido olhar estúpido.

PEQUENA ELEGIA

É Poeta,
Tinha no meio do caminho uma pedra
Agora
Nesses tempos de louca servidão
Cegueira e devoção
Há enormes muros ilusórios
Na travessia do pensamento
Pois bem, Poeta,
Não há mais caminhos para pedras.